domingo, 9 de novembro de 2014

O capitalismo e os historiadores




O capitalismo e os historiadores
Friedrich von Hayek

O Capitalismo e os Historiadores (título original em inglês: Capitalism and the Historians, 1954) é um livro editado por Friedrich von Hayek que reúne ensaios de diversos autores com análises sobre a interpretação que a historiografia tem dado ao capitalismo sobretudo quando trata da Revolução industrial.
Os ensaios fizeram parte de uma série de trabalhos apresentados na quarta reunião anual da Sociedade Mont Pelerin, apresentados em 1951, sobre as origens do capitalismo.

INTRODUÇÃO

    História e política, por F.A. Hayek 

PRIMEIRA PARTE

    1. O tratamento do capitalismo pelos historiadores, por T.S. Ashton
    2. Os preconceitos anticapitalistas dos historiadores norte-americanos, por L.M. Hacker
    3. Os intelectuais europeus e o capitalismo, por B. de Jouvenel

História e política

Neste ensaio Hayek parte da constatação de uma estreita relação entre as convicções políticas e os julgamentos relacionados com determinados eventos históricos, já que as opiniões sobre umas doutrinas e instituições específicas vêm determinantemente influídas pelos efeitos passados que se lhes atribuem.
Se tais opiniões, segundo Hayek, estão viciadas, por exemplo, por concepções políticas, estas, graças à apresentação que façam os historiadores dos fatos, se infiltrarão na opinião pública através de imagens e interpretações históricas.
Os horrores descritos pela historiografia tradicional sobre a Revolução Industrial são, segundo Hayek, um claro exemplo disto.
Para Hayek tal interpretação persiste pelo fato de que o aumento do nível de vida durante a era industrial facilitou a percepção consciente de uma miséria até então considerada normal e inevitável, e que tinha passado relativamente desapercebida.
Ao presenciar o progresso da época, repentinamente muitos consideraram a pobreza como uma realidade fora de lugar, e a industrialização não foi apreciada por gerar riqueza, senão, mais bem criticada por não produzir a riqueza suficiente.
Destaca também Hayek que os proprietários de terra e os círculos conservadores difundiram esta versão dos fatos no labor de sua luta contra os industriais e o livre mercado, versão finalmente recolhida pela historiografia socialista pois confirmava suas teses socioeconômicas a respeito do capitalismo.

O tratamento do capitalismo pelos historiadores

Ashton critica em seu ensaio o pessimismo que percebe em boa parte da historiografia tradicional sobre a Revolução Industrial, e o que muitos autores interpretam os fatos excluindo os ensinamentos econômicos.
Ashton também destaca e critica a visão romântica que alguns autores têm sobre a época pré-industrial.
Segundo Ashton, tomando em conta informes da época pode afirmar-se que muita da miséria da época foi causada pela legislação, hábitos e formas de organização obsoletas.
Nestes relatórios, segundo Ashton, pode se ver que os trabalhadores industriais percebiam melhor pagamento que os empregados domésticos, que dependiam de métodos atrasados;
que as condições trabalhistas eram mais precárias nas oficinas pequenas e não nas fábricas de vapor;
que onde a repressão e os maus tratos eram mais frequentes nos povos isolados e nas zonas rurais e não nas minas carboníferas ou nas zonas urbanas.
Finaliza Ashton citando estudos de Bowley e Wood onde se afirma que os salários reais tiveram uma curva crescente durante a maior parte daquela época.

Os preconceitos anticapitalistas dos historiadores norte-americanos

Hacker começa com o estudo geral a respeito do distorcido tratamento histórico dado ao capitalismo em séculos anteriores, especificamente no que tange a preconceitos anticapitalistas de numerosos historiadores norte-americanos.
Por exemplo, Hacker considera que o qualificativo de "desumano", adjudicado frequentemente ao século XIX, é calunioso: segundo as fontes por ele consultadas, nessa época os salários reais subiram nos países industrializados como consequência do decréscimo dos preços dos produtos, enquanto simultaneamente os países menos desenvolvidos se beneficiaram de um crescente fluxo de capital em forma de investimentos.
Por outro lado, Hacker fala também da introdução "de uma política estatal em grande escala a favor da saúde e da instrução pública".
O autor também se refere à intervenção governamental que, a seu julgamento, atrasou o progresso na Inglaterra, mencionando como exemplo, a questão da moradia.
Na literatura crítica à industrialização, sobretudo a dos reformadores sociais, sempre se mencionam a precariedade das moradias; Hacker indica que as causas, no entanto, cabe procurar nos movimentos migratórios e na política fiscal que impôs taxas de interesse fixas dificultando o investimento de capital; e, por outro lado, os impostos aos materiais de construção que encareceram o preço das moradias.
Passando aos Estados Unidos e aos historiadores norte-americanos, Hacker aponta os preconceitos anticapitalistas estendidos entre estes últimos analisando suas características, seus fundamentos e suas consequências.
Por contraste com Europa, os preconceitos anticapitalistas nos EUA, assinala Hacker, não provinham principalmente do marxismo senão mais bem das ideias socialdemocratas e fabianas, aliando isto a uma historiografia influenciada por julgamentos morais.
Tendo em conta isto, Hakcer faz referência à estendida influência da tradicional disputa política entre hamiltonismo e o jeffersonismo.
Assinala Hacker, que Hamilton foi associado com o capitalismo e Jefferson com o igualitarismo, ainda que mais por razões morais que econômicas, pelo qual os historiadores considerados anticapitalistas se serviram da figura de Jefferson para divulgar suas interpretações.

Os intelectuais europeus e o capitalismo

De Jouvenel começa realçando que, a seu julgamento, o estudo do passado leva  de encontro as ideias do presente.
No caso do estudo da história afirma que a atitude do historiador reflete uma atitude difundida entre os intelectuais em geral.
De acordo com De Jouvenel, a atitude do intelectual com respeito ao progresso econômico é ambivalente: enquanto por um lado engrandece as conquistas da técnica e celebra que a sociedade goze de um maior bem-estar econômico, pelo outro considera que a industrialização destrói valores e estabelece uma disciplina tenaz; para finalmente atribuir à "força do progresso" todo aquilo que gosta e a "força do capitalismo" aquilo que não gosta.
Continua De Jouvenel afirmando que os intelectuais menosprezam ao empresário porque este oferece aos consumidores o que desejam, enquanto eles dizem ao público o que deve e não deve desejar.
De Jouvenel destaca que se a meta dos intelectuais é difundir a verdade então "tendemos a adotar com respeito ao homem de negócios a mesma atitude de superioridade moral que do fariseu com respeito ao puritano".
Adverte, no entanto que o pobre assaltado no caminho, não foi socorrido pelo intelectual (o levita) senão pelo comerciante (o samaritano).
De Jouvenel considera que se os intelectuais se sentem relegados a um plano inferior de protagonismo é porque outros satisfazem melhor as necessidades da sociedade.



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