O capitalismo e os
historiadores
Friedrich von Hayek
O Capitalismo e os Historiadores (título original em inglês:
Capitalism and the Historians, 1954) é um livro editado por Friedrich von Hayek
que reúne ensaios de diversos autores com análises sobre a interpretação que a historiografia
tem dado ao capitalismo sobretudo quando trata da Revolução industrial.
Os ensaios fizeram parte de uma série de trabalhos
apresentados na quarta reunião anual da Sociedade Mont Pelerin, apresentados em
1951, sobre as origens do capitalismo.
INTRODUÇÃO
História e
política, por F.A. Hayek
PRIMEIRA PARTE
1. O tratamento do
capitalismo pelos historiadores, por T.S. Ashton
2. Os preconceitos
anticapitalistas dos historiadores norte-americanos, por L.M. Hacker
3. Os intelectuais
europeus e o capitalismo, por B. de Jouvenel
História e política
Neste ensaio Hayek parte da constatação de uma estreita
relação entre as convicções políticas e os julgamentos relacionados com
determinados eventos históricos, já que as opiniões sobre umas doutrinas e
instituições específicas vêm determinantemente influídas pelos efeitos passados
que se lhes atribuem.
Se tais opiniões, segundo Hayek, estão viciadas, por
exemplo, por concepções políticas, estas, graças à apresentação que façam os
historiadores dos fatos, se infiltrarão na opinião pública através de imagens e
interpretações históricas.
Os horrores descritos pela historiografia tradicional sobre
a Revolução Industrial são, segundo Hayek, um claro exemplo disto.
Para Hayek tal interpretação persiste pelo fato de que o
aumento do nível de vida durante a era industrial facilitou a percepção
consciente de uma miséria até então considerada normal e inevitável, e que
tinha passado relativamente desapercebida.
Ao presenciar o progresso da época, repentinamente muitos
consideraram a pobreza como uma realidade fora de lugar, e a industrialização não foi apreciada por gerar riqueza, senão, mais
bem criticada por não produzir a riqueza suficiente.
Destaca também Hayek que os proprietários de terra e os
círculos conservadores difundiram esta versão dos fatos no labor de sua luta
contra os industriais e o livre mercado, versão finalmente recolhida pela historiografia
socialista pois confirmava suas teses socioeconômicas a respeito do
capitalismo.
O tratamento do
capitalismo pelos historiadores
Ashton critica em seu ensaio o pessimismo que percebe em boa
parte da historiografia tradicional sobre a Revolução Industrial, e o que
muitos autores interpretam os fatos excluindo os ensinamentos econômicos.
Ashton também destaca e critica a visão romântica que alguns
autores têm sobre a época pré-industrial.
Segundo Ashton, tomando em conta informes da época pode
afirmar-se que muita da miséria da época foi causada pela legislação, hábitos e
formas de organização obsoletas.
Nestes relatórios, segundo Ashton, pode se ver que os
trabalhadores industriais percebiam melhor pagamento que os empregados
domésticos, que dependiam de métodos atrasados;
que as condições trabalhistas eram mais precárias nas
oficinas pequenas e não nas fábricas de vapor;
que onde a repressão e os maus tratos eram mais frequentes
nos povos isolados e nas zonas rurais e não nas minas carboníferas ou nas zonas
urbanas.
Finaliza Ashton citando estudos de Bowley e Wood onde se
afirma que os salários reais tiveram uma curva crescente durante a maior parte
daquela época.
Os preconceitos
anticapitalistas dos historiadores norte-americanos
Hacker começa com o estudo geral a respeito do distorcido
tratamento histórico dado ao capitalismo em séculos anteriores, especificamente
no que tange a preconceitos anticapitalistas de numerosos historiadores norte-americanos.
Por exemplo, Hacker considera que o qualificativo de
"desumano", adjudicado frequentemente ao século XIX, é calunioso:
segundo as fontes por ele consultadas, nessa época os salários reais subiram
nos países industrializados como consequência do decréscimo dos preços dos
produtos, enquanto simultaneamente os países menos desenvolvidos se
beneficiaram de um crescente fluxo de capital em forma de investimentos.
Por outro lado, Hacker fala também da introdução "de
uma política estatal em grande escala a favor da saúde e da instrução
pública".
O autor também se refere à intervenção governamental que, a
seu julgamento, atrasou o progresso na Inglaterra, mencionando como exemplo, a
questão da moradia.
Na literatura crítica à industrialização, sobretudo a dos
reformadores sociais, sempre se mencionam a precariedade das moradias; Hacker
indica que as causas, no entanto, cabe procurar nos movimentos migratórios e na
política fiscal que impôs taxas de interesse fixas dificultando o investimento
de capital; e, por outro lado, os impostos aos materiais de construção que encareceram
o preço das moradias.
Passando aos Estados Unidos e aos historiadores
norte-americanos, Hacker aponta os preconceitos anticapitalistas estendidos
entre estes últimos analisando suas características, seus fundamentos e suas
consequências.
Por contraste com Europa, os preconceitos anticapitalistas
nos EUA, assinala Hacker, não provinham principalmente do marxismo senão mais
bem das ideias socialdemocratas e fabianas, aliando isto a uma historiografia
influenciada por julgamentos morais.
Tendo em conta isto, Hakcer faz referência à estendida
influência da tradicional disputa política entre hamiltonismo e o
jeffersonismo.
Assinala Hacker, que Hamilton foi associado com o
capitalismo e Jefferson com o igualitarismo, ainda que mais por razões morais
que econômicas, pelo qual os historiadores considerados anticapitalistas se
serviram da figura de Jefferson para divulgar suas interpretações.
Os intelectuais
europeus e o capitalismo
De Jouvenel começa realçando que, a seu julgamento, o estudo
do passado leva de encontro as ideias do
presente.
No caso do estudo da história afirma que a atitude do
historiador reflete uma atitude difundida entre os intelectuais em geral.
De acordo com De Jouvenel, a atitude do intelectual com
respeito ao progresso econômico é ambivalente: enquanto por um lado engrandece
as conquistas da técnica e celebra que a sociedade goze de um maior bem-estar econômico,
pelo outro considera que a industrialização destrói valores e estabelece uma
disciplina tenaz; para finalmente atribuir à "força do progresso"
todo aquilo que gosta e a "força do capitalismo" aquilo que não gosta.
Continua De Jouvenel afirmando que os intelectuais
menosprezam ao empresário porque este oferece aos consumidores o que desejam,
enquanto eles dizem ao público o que deve e não deve desejar.
De Jouvenel destaca que se a meta dos intelectuais é
difundir a verdade então "tendemos a adotar com respeito ao homem de
negócios a mesma atitude de superioridade moral que do fariseu com respeito ao
puritano".
Adverte, no entanto que o pobre assaltado no caminho, não
foi socorrido pelo intelectual (o levita) senão pelo comerciante (o
samaritano).
De Jouvenel considera que se os intelectuais se sentem
relegados a um plano inferior de protagonismo é porque outros satisfazem melhor
as necessidades da sociedade.
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